Tecnologia e Espiritualidade: 02/09/14

domingo, 9 de fevereiro de 2014




UMA LANCHONETE ÍMPAR
          Um comerciante na beira da rodovia era tradicionalista em seus serviços de lanchonete muita apreciada e famosa pelas peculiaridades. Aprendera com seu pai, que por sua vez aprendera com seus avós, então tataravós. Forneciam a seus clientes assíduos e féis quitutes e lanches especiais com ingredientes selecionados encontrados em diferentes fornecedores conforme ditava a tradição de gerações da família.Seu lucro era modesto, mas sua clientela era excepcional e fidelíssima. Trabalhava-se muito e com grande satisfação pela gratidão e elogios.Não tinha lanchonete que tivesse tantos clientes satisfeitos.Serviam um aperitivo de cachaça que guardava a sete chaves sua procedência. Uma especiaria muito forte que quem sorvia o líquido aguardente, tinha uma sensação super refrescante que descia a goela e um rubor no rosto. Era uma cachaça onde a matéria prima, a cana-de-açúcar, as primeiras mudas vieram na colonização de árabes, de uma família mineira também tradicionalista do interior de minas. Nesta usina de cachaça, as caldeiras eram todas de puro cobre e o fermento, o usineiro levaria para catacumba se não tivesse deixado escrito em testamento para seus herdeiros.
          São vários os produtos que se destacam. O pão de centeio especial elaborado com dosagens  secretas de porções de tipos diferentes de farinha, servido crocante e quente com recheio salgado ou quente, feito com queijo de leite de cabra, gergelim, manteiga caseira com ervas e uma variedade de outros ingredientes especiais, mas tudo muito bem feito e com um paladar requintado.
           O café torrado na hora e com grãos fornecidos pelas grandes fazendeiros paulistas,  através de uma técnica nada tradicional. Os grão eram digeridos e eliminados pela ave, o jacu, ave nativa da Amazônia, tratados com muito carinho pelo produtor que fazia questão de mostrar ao públicos o criadouro. Dizia que se as aves fossem tratadas com carinho os grãos saiam mais saborosos depois que torrados. Deixava o cliente ciente, para ser honesto das procedências higiênicas. Mas todos eram unânimes do melhor café em aroma e sabor do mundo. Vinham apreciadores no final de semana com amigos para provar esta delícia ímpar.
          Tudo transcorria maravilhosamente e com lucros modestos, mas gratificante, até que houve uma mudança brusca geral na lanchonete. É que o dono da lanchonete tinha um filho que frequentou a faculdade e se formou em administração de empresas, o orgulho do pai,  porque queria que este ajudasse a crescer os negócios. Quando formou-se foi administrar a lanchonete. Queria ampliar e diversificar a empresa. Após analisar todas as etapas da produção e atendimento ao público, observou que os atendentes davam muita conversa e atenção simpática aos clientes e deixavam de atender e oferecer os produtos. Poderiam conversar, desde que o assunto fosse relacionado ao consumo e oferta dos produtos da lanchonete. Não poderiam jogar fora conversa.
           Outra medida seria relacionado "por conta da casa", como era feita as degustação grátis do maior atrativo dos apreciadores da boa e artesanal cachaça e também do queijo de cabra feita com ervas especiais, que eram oferecidos como entrada aos clientes bons de garfos.   Tudo agora seria cobrado a parte, conforme pedido  antecipado por comanda. Os pães seriam trocados por pães mais baratos com trigo, sem as outras misturas de farinhas. Isto daria uma economia considerável, pois pães são mais comuns e todos já estão acostumados com o tipo tradicional, não perceberiam a diferença.
          Mudou também no layout, colocando mais assentos próximos as vitrines dos salgados, em vez dos assentos  voltados para as paisagens e a estrada. Aumentariam o consumo se o  cliente ficar mais próximo das atrativas guloseimas.
          Tudo isso era apreciado pelo pai, dono da lanchonete que dizia: - Olhem, escutem meu filho. Ele estudou na melhor universidade e sabe melhor que ninguém, como gerenciar até uma grande multinacional .
          Porém não foi o que aconteceu. Aos poucos muitos cliente mudaram de lanchonete. Os serviços que agora ofereciam, não estava mais satisfazendo os clientes. Estes antes  fiéis desapareceram. Ficando apenas os clientes passageiros da estrada, que paravam apenas para fazer um lanchinho rápido.
          Não demorou muito para descobrirem que perderam a qualidade e o charme da lanchonete especial.           Antes que tivesse que fechar as portas, o dono do estabelecimento imediatamente restabeleceu os antigos procedimentos.  Conseguiu que seu filho arrumasse um serviço numa repartição público no centro da cidade. E assim retornou aliviado aos negócios, à tempo de uma total falência.
         Mas do conhecimento do filho nem tudo foi perdido e em vão. Seu rebento ensinou que todos os dias deveriam fazer uma conversa diária antes de iniciar o atendimento, frisando regras de bom atendimento como: não conversar paralelamente sobre assuntos pessoais enquanto estiver atendendo o cliente; atenção pessoal e personalizada,  o cliente sempre tem razão quando reclama de produtos e serviços desde que coerente; o mal humor e problemas pessoais devem ser deixados do lado de fora do estabelecimento procurando uma oração silenciosa e ajuda espiritual; ficar atento aos clientes sem ser evasivos,dar sugestão ou propaganda só quando solicitados, etcs.
        A qualidade de vida se baseia na otimização e modernização dos serviços sem ter como objetivo principal a otimização dos lucros e faturamentos. Gostar e sentir prazer no trabalho proporciona satisfação pessoal e dever cumprido com estilo.

         Assim a lanchonete voltou a sua normalidade e seus clientes mais felizes do que nunca.