São atitudes que tomamos levado pelo egoismo cego e inconsequente ao exagero, com resultados para reparações no pretérito, descritas numa passagem de Chico na obra psicografada de André Luis: "Nos Domínios da Mediunidade".
Fragmentos da existência de um evento com resultado trágico que assemelham com milhares de outros. A psicografia é um fenômeno incrível que poucos tiveram o merecimento de experimentar. Como grafotécnico, especialidade adquirida à alguns anos, sigo pesquisando arquivos relacionados e em breve, estarei escrevendo um artigo referente às características psíquicos presentes nos traços lançados no papel pelos médiuns dos vários estilos e padrões. A do tipo mecânica, do Chico em especial, é uma experiência incrível e incontestável. A espiritualidade executa um trabalho complexo e uma preparação metódica de anos de estudos e aperfeiçoamentos, respeitando o livre arbítrio individual irrefutável. No futuro distante a comunicação com o etéreo será uma experiência compreendida e sagrada. Porém se vê muito de charlatanismo e egocentrismo que comprometem os trabalhos legítimos e edificadores, gerando desconfiança de céticos que acabam redirecionando para outras linhas de aprendizagens, adiando este aperfeiçoamento.
Com relação ao texto,as atitudes se repetem, só mudam os personagens.
Esta é um trecho psicografado da Obra de Chico Xavier , ditado pelo mentor Emmanuel há algumas décadas passadas. Relata atitudes contestáveis de irresponsabilidade e egoismo para com uma doente indefesa. O autor do texto é do espírito André Luis.
Socorro Espiritual
Sob a influência de Clementino, que o envolvia inteiramente, Silva
levantara-se e dirigia-se ao comunicante com bondade:
— Meu amigo, tenhamos calma e roguemos o amparo divino!
— Estou doente, desesperado...
— Sim, todos somos enfermos, mas não nos cabe perder a confiança.
Somos filhos de Nosso Pai Celestial que é sempre pródigo de amor.
— É padre?
— Não. Sou seu irmão.
— Mentira. Nem o conheço...
— Somos uma só família, à frente de Deus.
O interlocutor conturbado riu-se irônico e acentuou:
— Deve ser algum sacerdote fanatizado para conversar nestes termos!..
A paciência do doutrinador sensibilizava-nos.
Não recebia Libório, qual se fora defrontado por um habitante das sombras,
suscetível de acordar-lhe qualquer impulso de curiosidade menos digna.
Ainda mesmo descontando o valioso concurso do mentor que o
acompanhava, Raul emitia de si mesmo sincera compaixão de mistura com
inequívoco interesse paternal. Acolhia o hóspede sem estranheza ou irritação,
como se o fizesse a um familiar que regressasse demente ao santuário
doméstico.
Talvez por essa razão o obsessor a seu turno se revelava menos
agastadiço.
Tão logo passou a entender-se, de algum modo, com o dirigente
da casa, observamos que Eugênia se revigorava no esforço assistencial que
lhe competia.
— Não sou um ministro religioso — continuava Raul, imperturbável —, mas
desejo me aceite como seu amigo.
— Que irrisão! não existem amigos quando a miséria está conosco...
Dos
companheiros que conheci, todos me abandonaram. Resta-me apenas Sara!
Sara, que não deixarei...
Fixou a expressão de quem se detinha na lembrança da pessoa a quem se
referira e acrescentou com recalcada indignação:
Ignoro por que me entravam agora os passos. É inútil. Aliás, não sei a
razão pela qual me contenho. Um homem provocado, qual me vejo, decerto
deveria esbofeteá-los a todos... Afinal, que fazem aqui estes cavalheiros
silenciosos e estas mulheres mudas? que pretendem de mim?
— Estamos em prece por sua paz — falou Silva, com inflexão de bondade
e carinho.
— Grande novidade! que há de. comum entre nós? Devo-lhes algo?
— Pelo contrário — exclamou o interlocutor, convicto —, nós somos quem
lhe deve atenção e assistência. Estamos numa instituição de serviço fraterno e
é fora de dúvida que, num hospital, a ninguém será lícito inquirir da luta
particular daqueles que lhe batem à porta, porque, antes de tudo, é dever da
medicina e da enfermagem a prestação de socorro às feridas que sangram.
Ante o argumento enunciado com sinceridade e simpleza, o renitente
sofredor pareceu apaziguar-se ainda mais.
Jactos de energia mental, partidos
de Silva, alcançavam-no agora em cheio, no tórax, como a lhe buscarem o
coração. Libério tentou falar, contudo, à maneira de um viajante que já não pode
resistir à aridez do deserto, comoveu-se diante da ternura daquele inesperado
acolhimento, a surgir-lhe por abençoada fonte de água fresca. Surpreendido,
notou que a palavra lhe falecia embargada na garganta.
Sob o sábio comando de Clementino, falou o doutrinador com afetividade
ardente:
— Libério, meu irmão!
Essas três palavras foram pronunciadas com tamanha inflexão de
generosidade fraternal que o hóspede não pôde sopitar o pranto que lhe subia
do âmago.
Raul avançou para ele, impondo-lhe as mãos, das quais jorrava luminoso
fluxo magnético, e convidou:
— Vamos orar!
Findo um minuto de silêncio, a voz do diretor da casa, sob a inspiração de
Clementino, suplicou enternecidamente:
- Divino Mestre, lança compassivo olhar sobre a nossa família aqui
reunida...
Viajores de muitas romagens, repousamos neste instante sob a árvore
bendita da prece e te imploramos amparo!
Todos somos endividados para contigo, todos nos achamos
empenhados à tua bondade infinita, à maneira de servos insolventes para
com o senhor.
Mas, rogando-te por nós todos, pedimos particularmente agora pelo
companheiro que, decerto, encaminhas ao nosso coração, qual se fora
uma ovelha que torna ao aprisco ou um irmão consangüíneo que volta ao
Lar..
Mestre, dá-nos a alegria de recebê-lo de braços abertos.
Sela-nos os lábios para que lhe não perguntemos de onde vem e
descerra-nos a alma para a ventura de tê-lo conosco em paz.
Inspira-nos a palavra a fim de que a imprudência não se imiscua em
nossa língua, aprofundando as chagas interiores do irmão, e ajuda-nos a
sustentar o respeito que lhe devemos...
Senhor, estamos certos de que o acaso não te preside às
determinações!
Teu amor, que nos reserva invariavelmente o melhor, cada dia,
aproxima-nos uns dos outros para o trabalho justo.
Nossas almas são fios da vida em tuas mãos!
Ajusta-os para que obtenhamos do Alto o favor de servir contigo!
Nosso Libório é mais um irmão que chega de longe, de recuados
horizontes do passado...
Ó Senhor, auxilia-nos para que ele não nos encontre proferindo o teu
nome em vão!...
O visitante chorava.
Via-se, porém, com clareza, que não eram as palavras a força que o
convencia, mas sim o sentimento irradiante com que eram estruturadas.
Raul Silva, sob a destra radiosa de Clementino, afigurava-se-nos aureolado
de intensa luz.
— Ó Deus, que se passa comigo?...
— conseguiu gritar Libório em lágrimas.
O irmão Clementino fez breve sinal a um dos assessores de nosso plano,
que apressadamente acorreu, trazendo interessante peça que me pareceu uma
tela de gaze tenuíssima, com dispositivos especiais, medindo por inteiro um
metro quadrado, aproximadamente.
O mentor espiritual da reunião manobrou pequena chave num dos ângulos
do aparelho e o tecido suave se cobriu de leve massa fluídica, branquicenta e
vibrátil.
Em seguida, postou-se novamente ao pé de Silva, que, controlado por ele,
disse ao comunicante:
— Lembre-se, meu amigo, lembre-se! Faça um apelo à memória! Veja à
frente os quadros que se desenrolarão aos nossos olhos!...
De imediato, como se tivesse a atenção compulsoriamente atraida para a
tela, o visitante fixou-a e, desde esse momento, vimos com assombro que o
retângulo sensibilizado exibia variadas cenas de que o próprio Libório era o
principal protagonista. Recebendo-as mentalmente, Raul Silva passou a
descrevê-las:
— Observe, meu amigo! É noite. Ouve-se um burburinho de algazarra a
distância... Sua mãe velhinha chama-o à cabeceira e pede-lhe assistência...
Está exausta... Você é o filho que lhe resta... Derradeira esperança de
flagelada vida. Único arrimo... A pobre sente-se morrer. A dispnéia martiriza-a...
E o distúrbio cardíaco pressagiando o fim do corpo... Tem medo. Declara-se
receosa da solidão, de vez que é sábado carnavalesco e os vizinhos se
ausentaram na direção dos centros festivos. Parece uma criança atemorizada...
Contempla-o, ansiosa, e roga-lhe que fique... Você responde que sairá tão somente por alguns minutos... o bastante para trazer-lhe a medicação
necessária... Em seguida, avança, rápido, para uma gaveta situada em
aposento próximo e apropria-se do único dinheiro de que a enferma dispõe,
algumas centenas de cruzeiros, com que você se julga habilitado a desfrutar as
falsas alegrias do seu clube... Amigos espirituais de seu lar abeiram-se de
você, implorando socorro em favor da doente, quase moribunda, mas você se
mostra impermeável a qualquer pensamento de compaixão... Dirige algumas
palavras apressadas à enferma e sai para a rua. Em plena via pública, imantasse aos indesejáveis companheiros desencarnados com os quais se afina...
entidades turbulentas, hipnotizadas pelo vício, com as quais você se arrasta ao
prazer... Por três dias e quatro noites consecutivos, entrega-se à loucura, com
esquecimento de todas as obrigações... Somente na madrugada de quarta feira você volta estafado e semi-inconsciente... A velhinha, socorrida por braços
anônimos, não o reconhece mais... Aguarda, resignadamente, a morte,
enquanto você se encaminha para um quarto dos fundos, na expectativa de
conseguir um banho que o auxilie a refazer-se... Abre o gás e senta-se por
alguns minutos, experimentando a cabeça entontecida... O corpo exige descanso, depois da louca folia... A fadiga surge, insopitável... Desapercebe-se de
si mesmo e dorme semi-embriagado, perdendo a existência, porque as
emanações tóxicas lhe cadaverizam o cor..... Na manhã clara de sol, um
rabecão leva-o ao necrotério, como simples suicida...
Nessa altura, o interlocutor, como se voltasse de um pesadelo, bradou
desesperado:
— Oh! esta é a verdade! a verdade!.., onde está minha casa? Sara, Sara,
quero minha mãe, minha mãe!...
— Acalme-se! — recomendou Raul, compadecido — nunca nos faltará o
socorro divino! seu lar, meu amigo, cerrou-se com os seus olhos de carne e
sua genitora, de outras esferas, lhe estende os braços amorosos e
santificantes.
O comunicante, vencido, caiu em lágrimas.
Tão grande lhe surgiu a crise emotiva que o mentor espiritual do grupo se
apressou a desligá-lo do equipamento mediúnico, entregando-o aos vigilantes
para que fosse conveniententente abrigado em organização próxima.
Libório, em fundo processo de transformação, afastou-se, tornando Eugênia
à posição normal.
E porque a tela regressasse à transparência do início, desfechei sobre o
nosso orientador algumas indagações improvisadas.
Que função desempenhava aquele retângulo que eu ainda não conhecia?
que cenas eram aquelas que se haviam desdobrado céleres sob a nossa
admiração?
— Aquele aparelho — informou Aulus, gentil — é um «condensador
ectoplásmico». Tem a propriedade de concentrar em si os raios de força
projetados pelos componentes da reunião, reproduzindo as imagens que fluem
do pensamento da entidade comunicante, não só para a nossa observação,
mas também para a análise do doutrinador, que as recebe em seu campo
intuitivo, agora auxiliado pelas energias magnéticas do nosso plano.
— Evidentemente, a engrenagem de semelhante mecanismo deve ser
maravilhosa! — exclamou Hilário, sob forte impressão.
— Nada de espanto — alegou o orientador —; o hóspede espiritual apenas
contempla os reflexos da mente de si mesmo, à maneira de pessoa que se
examina, através de um espelho.